Texto: Nuno Fontainhas
Fotos: Autor e Arquivo Para os que pescam em barco fundeado aí está mais uma boa oportunidade para explorarem águas muito ricas em peixe, pese as particularidades de pesca na costa sul do país. Fomos ao encontro dos campeões nacionais e colaboradores do nosso site (PE), Célio Alves e Alexandre Dionísio, que se deram um pouco mais a conhecer e deixaram algumas preciosas dicas a quem visita a zona de Albufeira.
Cidade algarvia povoada desde os tempos pré-históricos, Albufeira era um importante centro piscatório e portuário, segundo indícios que remontam ao neolítico e à idade do bronze. Sempre foi terra de pescadores e, Célio Alves e Alexandre Dionísio, respectivamente campeão e vice-campeão nacional de pesca ao fundo em barco fundeado, nasceram e vivem nesta cidade.
Desde tenra idade, primos que são, encontraram a paixão pela pesca, desde aí nunca mais desapareceu o bichinho dos seus corações e, é normal encontrar vazio o local da marina onde têm o barco ancorado, não lhes escapa um fim de semana, indicando mais um treino juntos. Célio Alves e Alexandre Dionísio representam como atletas, o Clube Pesca e Náutica Desportiva — Albufeira na modalidade de pesca de alto mar em barco fundeado. Desde muito novos percorriam as praias da costa de Albufeira na pesca ao fundo e à bóia. Inicíaram-se na competição de pesca em barco fundeado há mais de 10 anos, primeiro o Alexandre Dionísio e mais tarde o seu primo Célio Alves; hoje podemos dizer que se encontram entre os melhores pescadores a nível nacional desta modalidade.
Cada um tem a sua postura em acção de pesca, o Alexandre “foi vacinado com uma agulha de gramofone” sempre a falar, divertido. Célio por seu lado, passa despercebido, sempre calado, atento a cada pormenor, o estado do mar, o que o peixe está a comer.
De todos os factores talvez um seja mais importante na acção de pesca, o comportamento do próprio pescador.
Caso o mar deixe, a opção será mesmo ir para mares mais fundos entre os 80 e os 100 metros; aí deverão utilizar chumbadas com mais de 200 g, sendo as probabilidades de apanhar um peixe de bom porte bem maiores. Para pescadores mais exigentes recomendamos uma pesca mais sofisticada, utilizando como isco de eleição filetes de sardinha ou mesmo cavala, apenas com dois anzóis 1/0 ou 2/0, o que permite que, logo à partida, exista uma selecção do peixe pelo anzol. Nos estralhos usam sempre 0,50 mm e na madre 0,60 mm.
Pode utilizar-se com bons resultados uma pesca selectiva, utilizando filetes de sardinha ou cavala, com montagens de dois anzóis 1/0 ou 2/0
Dicas preciosas…
Alexandre Dionísio e Célio Alves revelam alguns truques e dão algumas dicas, dignas de campeões, para quem venha pescar em terras algarvias. Tanto um como outro recomendam a utilização de anzóis tipo Chinu, visto serem anzóis com bicos e barbelas excelentes. As madres devem ser elaboradas com destorcedores de missangas cruzadas (crossbeads), e podem utilizar o tradicional nó de bola ou então coladas, dependendo da opção do pescador, madres entre os 0,28mm e 0,30mm em fluorocarbono. Se o pesqueiro estiver entre os 30 e os 40 metros de fundo deverão utilizar chumbadas entre os 130 e os 150 gramas, se pescarem entre os 40 e os 60 metros utilizam chumbadas entre 150 e as 200 gramas, mas se a água correr muito então a chumbada poderá ter mais de 200 gramas.
Os mais procurados…
No Algarve a diversidade de peixe é enorme, assim como o isco utilizado na pesca em barco fundeado: coreana, casulo parchal, camarão, amêijoa branca, berbigão e ralos são os iscos de eleição. Pode haver mais, mas estes são os principais para quem pesca nestes mares.
Aproveitando para falar um pouco sobre os tipos de peixes do Algarve, começamos pelo besugo. O isco utilizado é o camarão, amêijoa branca ou mesmo os ralos, trata-se de peixe que anda em cardume e, quando ataca, é muito usual haver muitas duplas e mesmo triplas. Este peixe “anda” entre os 30 e os 100 metros, em fundos rochosos ou cascalheira, e a zona mais forte para capturá-los é entre Albufeira e Portimão.
As choupas e as safias andam em fundos rochosos ou em beiradas da pedra, entre os 30 e os 70 metros. Para a captura destas espécies são bons todos os iscos acima referidos. Existem alguns exemplares a maiores profundidades, mas são mais raros e de maior porte. Neste caso, utiliza-se na pesca uma madre entre 0,30 e 0,33 mm, estralhos entre o 0,23 e 0,26mm com distância de 50 cm entre eles.
Uma perninha…
Fomos com os colaboradores do PE, o Campeão Nacional 2009 Célio Alves e Vice-Campeão Alexandre Dionísio, numa bonita manha de Domingo, cerca das 07:30 horas, saímos a barra de Albufeira no “Ridani” embarcação dos Campeões, para mais um treino de pesca.
O Alexandre ao leme ditou, com prévia análise do estado mar, o rumo para o pesqueiro, não muito longe de terra, a cerca de cinco milhas da costa. Durante o percurso, o Célio tratou de descascar as amêijoas brancas e algum camarão, iscos utilizados em provas federativas. No pesqueiro, e já em acção de pesca, os dois começaram por tirar safias de bom tamanho, intermediando com choupas pretas; parguetes e sargos também iam sendo capturados. Já o sol estava bem alto quando o peixe falhou e o Alexandre logo opinou, dizendo que havia peixe grado no fundo. Eis que, a razão lhe assistia, a cana dobrada e o carreto a “cantar” davam mostras de um peixe grande. Corrida mais corrida e lá apareceu ao cimo da água um pargo-legítimo, que depois de pesado acusou 2,8 kg.
O Célio não descansou enquanto não mostrou um sargo grande, de “camaroeiro”.
Os Campeões com as canas sempre em riste não tiveram descanso, como se de competição se tratasse, sendo certo que entre eles há sempre picardias. À hora do almoço, cerca das 13 horas, foi hora de rumar a terra.
Os materiais dos campeões
Todos os materiais usados, desde bolsas de transporte até às montagens dos aparelhos de pesca, são criteriosamente escolhidos em função de um bom desempenho em acção de pesca. Todos os materiais têm de se complementar, para que na sua utilização não haja atropelos. Diz o Alexandre Dionísio que “até no colete o material é distribuído com critérios”! Não só a zona de pesca, mas também as condições de mar são factores que ditam quais os aparelhos de pesca a utilizar. As chumbadas, como elemento a ter em conta na profundidade e tipo de peixe a apanhar, desde o seu peso até a côr do revestimento têm influência nos resultados. Estes atletas usam canas com comprimento sempre superior a 3,5m, pois compensa melhor as batidas do peixe e, na realidade são mais sensíveis nas picadas.
Todos os aparelhos de pesca são elaborados pelos próprios, e os materiais são alterados em função da utilidade.
Com as presenças em campeonatos do mundo em Espanha, Itália, Monte Negro e Holanda, evoluíram muito, principalmente em Itália, desde a concepção das montagens até às técnicas de pesca. De todos os materiais que usam não conseguem definir um que seja mais importante, talvez apenas um seja decisivo: o comportamento do pescador, sempre com respeito pelos adversários e pelo meio ambiente.